[Histórias] Débora Pereira

HISTÓRIAS - Débora PereiraBom, todo dia a tarde eu via meus vizinhos pegarem a perua pra ir para o beisebol, e um dia tive a curiosidade em saber o que tanto eles faziam lá. Foi aí que resolvi ir um dia para conhecer melhor o esporte que eu nunca tinha escutado falar.

Eu tinha 11 anos quando comecei a treinar com a molecada, e gostava tanto de ir que eu ia todos os dias. Pereira Barreto não tinha time de softbol federado, tinha apenas um com mulheres de todas as idades. Sensei Takano me disse que elas treinavam de domingo, então comecei a ir treinar com elas. Não tinha muitos campeonatos, a gente competia na Liga Noroeste.

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HISTÓRIAS - Débora PereiraMesmo não podendo jogar beisebol por causa da minha idade, continuei a treinar todos os dias com os meninos. Aprendi muito com o Sensei Takano, o Sensei Ichiy e o Sensei Hirão, adorava os finais de semana porque treinávamos sábado o dia inteiro e jogávamos bola depois de comer. Nossa que época boa! Um dia começaram a falar sobre a possibilidade de Pereira fazer um time de beisebol feminino, a cidade de Ibiúna foi a primeira a ter um, então montamos um time para jogar contra elas.

HISTÓRIAS - Débora PereiraEm um campeonato em Marília, eu estava assistindo o time de softbol da cidade treinar, e tinha muita menina boa treinando, eu adorava assistir. Eu admirava muito a Mariana Ribeiro (ou Mari), achava ela muito f*&%. No sábado a noite depois da janta, eu estava jogando bola na quadra com as meninas quando o tio Celso Shiomatsu me chamou e me perguntou se eu não queria jogar para o Giants Gecebs, disse que tudo seria por conta deles, passagens, alimentação, tudo e, mesmo ficando um pouco confusa, aceitei.

HISTÓRIAS - Débora PereiraFiquei pensando “como esse cara me conhece?”, pensei que ele não estava falando sério, até o momento que ele ligou para o Sensei Mikio pra ele falar comigo e me explicar como tudo seria. O beisebol feminino de Pereira tinha um torneio em Ibiúna, então o Sensei Mikio disse que ia la ver eu jogar. Eu jogava de pitcher, terceira base e algumas vezes shortstop. Enquanto estava jogando contra Ibiúna, vi o Sensei Mikio, o Sensei Higashi, e a Gabriela Castelani (BIBI) chegando para assistir. Na época eu não fazia ideia de quem era a “Bibi”, mas ela era toda estilosa (risos).

Depois do jogo fui conversar com eles, me explicaram como funcionava os treinos de Softbol, as categorias, se apresentaram, e contaram um pouco sobre eles. Cara, foi aí que percebi que a Bibi era uma jogadora incrível, super gente boa, me tratou super bem. Foi aí também que eu disse que iria sim treinar e fazer parte do time.

HISTÓRIAS - Débora PereiraEu estava com 14 anos quando comecei a viajar os finais de semana para treinar em São Paulo, era 10 horas dentro do ônibus para treinar sábado o dia todo e domingo meio período. Saía do treino e pegava o ônibus para pereira as 21:15, chegava em na segunda às 6:15, tomava banho, e ia pra aula que começava 7 horas. Era puxado, mas eu gostava muito.

Os primeiros treinos foram difíceis, as meninas eram muito boas. Eu tinha um pouco de vergonha no começo, não estava acostumada com o ritmo de treino deles. Nossa e quando a gente treinava com o adulto? Eu morria de medo de errar, esse time só tinha estrelas, era a Vivian, Tiemi, Kimberly, Kuroda, Bibi, Kaka, Camila Hosokawa, mas o treino era muito gostoso, muita alegria, risadas e medo de levar bronca do Sensei Higashi, meu deus!

HISTÓRIAS - Débora PereiraNo Gecebs, comecei jogando de gaia (outfielder), o Sensei Higashi me treinava de Pitcher, e também jogava de primeira base. Quando eu tinha 16 anos, a Vivian me perguntou se eu tinha interesse em jogar nos Estados Unidos (no mesmo time da “Bibi”) depois que eu terminasse o ensino médio, claro que eu disse que sim, iria jogar o esporte que amo, em um país de elite, com uma estrutura fenomenal. Eu sabia que pra isso eu precisaria treinar mais e aprender um pouco de inglês, porque eu não sabia falar uma frase em inglês.

HISTÓRIAS - Débora PereiraA Vivian e o irmão dela que me ajudaram com a papelada pra ir pro Chipola College. Viajei em agosto de 2015, com 17 anos. Foi tudo muito difícil, não entendia nada que os americanos falavam, e o nosso técnico era bravo. A minha sorte que eu tinha a Bibi e a Peqe (uma mexicana) que me ajudavam muito, nos treinos e nas aulas. No meu primeiro ano no Chipola, eu jogava de primeira base, uma semana antes de começar a temporada estávamos treinando e em um acidente de trabalho, machuquei o braço quando a lana trombou comigo.

HISTÓRIAS - Débora PereiraMinha técnica chamou o trainer para ir ver se eu estava bem, e eu não conseguia esticar o meu braço de dor, ele me perguntou se eu tinha escutado algo na hora, e eu com medo de ser algo grave disse que não. Fiquei um mês fazendo fisioterapia e não melhorava, meu braço não esticava. Fui ao médico, fiz a ressonância, e descobri que tinha rompido meu ligamento, e que precisaria fazer a famosa cirurgia “Tommy John”. Chorei muito, estava com medo, longe da minha família, não sabia nem falar inglês direito, pra ter uma noção a enfermeira no dia da cirurgia era uma Venezuela, ela sabia português, que alívio, porque era tanta pergunta que eu não ia saber responder, e seria importante para a cirurgia ser um sucesso.

HISTÓRIAS - Débora PereiraO hospital era um dos melhores dos Estados Unidos, Andrews Institute for Orthopaedics & Sports Medicine em Pensacola, o médico era muito bom também, Doctor Jordan, eu estava em boas mãos. A minha auxiliar técnica me acompanhou na cirurgia. Eu só lembro de ver dois médicos chegando e aplicando uma injeção, apaguei, acordei e já estava na sala de espera com a minha técnica esperando eu acordar, fofinha. Voltamos para a escola no mesmo dia, eu morava com a Bibi, e ela quem me ajudava COM TUDO pós-cirurgia (sério, quem vê ela não sabe o quão fofa pode ser), sou muito grata a tudo que ela fez pra me ajudar.

HISTÓRIAS - Débora PereiraChorava todos os dias de dor na fisioterapia, minha amiga Ashley ia comigo e segurava minha mão, era um sacrifício. Depois de 8 meses comecei gradualmente a girar o bata, pegar a bola e depois de um ano eu já estava me sentindo 100%, estava pronta para o ano seguinte (um fato interessante, o Chipola foi campeão nacional esse ano). No segundo ano foi muito legal, eu jogava contra o time da “Mari”, era sempre um jogão. Ficava feliz de poder ver ela, pra quem não sabe, ela é chorona, e me ligava todos os dias para falar como estava os treinos dela, a aula… enfim, eu consegui jogar todos os jogos no meu segundo ano, conseguimos ir para o Nationals (campeonato mais importante do junior college), mas infelizmente ficamos em segundo lugar.

Como machuquei meu primeiro ano, pude jogar um ano a mais de Junior College. Estava tudo muito bom, até que em janeiro, um mês antes de começar a temporada, desloquei meu ombro quando estava de lana. Não deu nada na ressonância, mas como teve muito impacto, eu teria que fazer muito fisioterapia, e claro meu braço não voltaria a jogar 100% e foi assim que “perdi” mais uma temporada.

HISTÓRIAS - Débora PereiraEstava desesperada, porque antes de me machucar, eu tinha conseguido uma bolsa completa na University of Alabama at Birmingham (Divisão 1), mas eu tinha pessoas maravilhosas na minha vida como a Barbara Woll, que mulher iluminada serio! Ela sempre me animava, falava pra eu não desistir que tudo ia melhorar, fiquei dois anos sem voltar para o Brasil, fui direto para a Universidade para continuar o tratamento do meu ombro, era tudo muito novo, porque a técnica que eu tinha assinado, foi mandada embora e colocaram um técnico novo.

HISTÓRIAS - Débora PereiraEle não sabia de tudo que tinha acontecido com meu ombro, no começo ele esperava muito de mim, eu ficava frustrada de não conseguir jogar a bola “forte”. Um dia ele me chamou na sala dele e disse que eu só jogaria de DH, porque eu não conseguia jogar a bola reta em distância de base. Era difícil aceitar tudo isso, mas eu sabia que não era minha culpa. Foi tudo muito difícil, eu estava sozinha, não tinha nenhuma brasileira na universidade, mas eu já tinha passado por muita coisa, continuei meu tratamento, joguei uns jogos na pré-temporada, e consegui bater bem graças a Deus.

Estava feliz comigo mesma, pois já estava conseguindo jogar a bola um pouco mais forte, mas já tinha perdido muitos jogos da temporada foi aí que resolvi falar com ele e pedi para ser redshirt (repor o ano), porque não valeria a pena eu entrar em um jogo no final da temporada, e ele conseguiu me dar esse ano a mais.

HISTÓRIAS - Débora PereiraMe formei em Administração e aprendi muita coisa nesses 4 anos nos EUA. Só quem já machucou sabe o quão difícil é para continuar forte, e com um pensamento positivo, que tudo vai melhorar, principalmente quando o tratamento é longo. Eu questionava a Deus todos os dias no meu primeiro ano, tinha 22 meninas, eu perguntava “por que eu?”, chorava no banho, não entendia o porquê de tudo aquilo acontecer comigo.

Hoje em dia eu vejo que Deus sabe o que faz, cresci muito como jogadora e pessoa depois que tudo isso aconteceu comigo. Foi tudo muito maravilhoso, uma experiência de vida incrível, me considero uma pessoa bem mais forte psicologicamente do que fisicamente.

Bom, galera essa é minha história, obrigada a todos que me acompanharam e me ajudaram nessa caminhada.

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